As férias escolares do meio do ano me deixavam sempre com um gosto agridoce na boca. Digo isso numa tentativa desastrada de colocar em palavras o que foram aqueles anos estudantis.
Ao passo que havia um alívio provocado pela ideia do recesso, havia o peso da responsabilidade. O ano letivo ainda não tinha acabado, um semestre inteiro pela frente, as provas finais e todo o resto.
Isso explica o sabor dúbio, mas e o coração apertado naquele julho de 2005?
Ouvi que o cérebro não consegue distinguir o que é real e o que é memória. Os neurocientistas me perdoem a falta de habilidade em explicar o conceito, mas sinto que é verdade, já que meu coração aperta exatamente como há 16 anos.
Posso ver claramente a cena: a grade do portão, uma agitação típica de escola, mas não beira o caos, não estamos no portão dos alunos, estamos na entrada dos docentes - sinto-me superior aos demais alunos. Não fosse a nostalgia e o tempo que me separa do ocorrido, sem dúvida ficaria envergonhada com minha arrogância juvenil.
A grade do portão deixa de ser cenário para ser personagem desta história. Ela é tão vívida em minha memória quanto eu e ele. Por um momento protagoniza a cena, estabelecendo os limites da ética.
Até na grade do portão ele poderia me acompanhar. O sabor é amargo.
Ele me entrega “O Príncipe”: o sabor é doce.
Não era um livro da biblioteca da escola, tampouco fazia parte do conteúdo programático. Vinham dele- o livro e a indicação.
Era ele. Tipografado e com capa dura.
Agora estava em minhas mãos.
O sabor é agridoce.
Decidi que faria “História” no instante em que o livro passou das mãos dele para as minhas.
Não me julgue pelo clichê do romance professor/aluna, nem pelo exagero em dizer que tomei uma decisão importante num curto espaço de tempo.
Neste momento, sinto exatamente isso: a decisão de cursar HISTÓRIA foi tomada no instante em que o livro passou das mãos dele para as minhas.
Não ingressei na faculdade naquela época, mas decisão havia sido tomada e assim como uma flecha que sai do arco, avança para atingir o alvo, eu faria História.
Concluo este texto matriculada na faculdade, 16 anos depois.
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