o avesso do avesso

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#1 no dia em que completei 35 anos
crônicas

#1 no dia em que completei 35 anos

nada mudou?

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Gisele Lance
nov 22, 2022
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#1 no dia em que completei 35 anos
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no dia em que completei 35 anos, olhei no espelho para ver se algo havia mudado. talvez, com atenção, pudesse notar uma ruga recém-inaugurada, um sulco de bigode chinês que até 6 de dezembro não havia notado.
pensei que algo deveria mudar agora que completei 35 anos de vida. talvez tivesse ganhado uma inclinação assimétrica nos ombros ou, com muita sorte, em vez de ruga, sulco e assimetrias, pudesse ter recebido um inédito, maduro e circunspecto brilho no olhar.

no dia em que completei 35 anos, olhei no espelho para ver se algo havia mudado. nada havia mudado? quando deixei de ser quem fui aos 25? aos 15?

li em algum lugar que num ciclo constante de 7 a 10 anos, as células vão envelhecendo e morrendo sendo substituídas por outras novas. assim, biologicamente falando, de tempos em tempos, temos uma nova versão (com mais idade) de nós.

como não consigo deixar a coisa no campo da biologia, fiquei pensando:

quanto de tudo que passou por mim ainda resta aqui? quanto de tudo que há agora, sempre esteve?

existe uma essência, um fio condutor, algo intrínseco ao meu ser que interliga todas a versões que fui e ainda serei?…

no dia em que completei 35 anos, estavam consertando algo no prédio em frente ao apê e o barulho era intenso demais. aborreci-me com os decibéis acima.

— caramba, como sou ranzinza!

sorri ao sentir que sempre fui assim: aos 35, aos 25, aos 15, aos 5.

colagem autoral

sou o que sou? sou o que faço? sou o que faço para mudar quem sou? sou algo à parte das minhas ações?

no dia em que completei 35 anos, fiz as malas. talvez fosse hora de partir mesmo, deixar para trás todas as minhas supostas versões anteriores. no espaço-tempo, sou eu aqui e agora. esvazio-me de tudo o que fui ou fiz, de tudo que foi. e mais uma vez, como em tantas outras, tento esquecer o passado e me manter no presente.

tentativa frustrada, em menos de um minuto volto ao passado e lembro o que me disse um amigo historiador:

“no fim, somos historiadores, gi, o passado está sempre presente”

talvez não seja só a ranzinzice que me acompanhará pela vida, mas também as velhas questões.


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um abraço, um beijo na bochecha e até a próxima!

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