os muito baixos que me perdoem, mas altura é fundamental, um metro e oitenta é o mínimo para um homem.
é preciso que haja qualquer coisa de mármore em tudo isso. qualquer coisa de bélico, qualquer coisa de revolucionário.
em tudo isso, _ que o homem se porte com a potência de um frísio_ não há meio termo possível, é preciso que seja forte.
é preciso que perene, na presença de um homem tenha-se a impressão de estar protegida por asas. amplas como as asas de uma águia. das águias, além da majestade protetora, também saiba enxergar, enxergar longe.
além de olhos perspicazes, que as mãos adquiriram de quando em vez, um calor encontrado apenas ao sol do meio dia.
é preciso que tudo isso seja, enfaticamente seja, que nunca titubeie. e que irrompa no olhar dos outros como uma batalha anunciada.
é preciso, é absolutamente preciso que seja forte e seguro.
é preciso que olhos cerrados lembrem um ardil de Ulisses.
que se acaricie nos braços alguma coisa além de músculo. que o toque seja suave, mas, às vezes incisivo, como âncora no chão do mar.
ah, deixe-me dizer a vocês que é preciso que o homem que ali está, como arqueiro a mirar no alvo, seja preciso e tenha pelo menos um rosto que lembre um astro.
que seja coordenado e resistente como um esgrimista. que tenha olhos que embora pequenos, sejam grandiosos.
glúteos redondos ovalados e centralizados de modo a formar uma concavidade na lateral da perna, na região do quadril. uma boca febril é de extrema pertinência.
é preciso que as extremidades sejam fortes, antebraços, punhos, canelas. que músculos saltem, sobretudo, deltóides, peitoral e oblíquo, numa geometria de um triângulo invertido. ou, pelo menos que tenha peitoral e bíceps notáveis.
gravíssimo é o problema do pescoço: fino ou soterrado. pescoço com longitude e espessura corretas é indispensável.
se houver barriga escondendo os oblíquos, que seja apenas uma hipótese de barriga.
que suas pernas sejam como colunas. que os adutores sejam capazes de quebrar a dureza da casca de cinco nós.
sobremodo pertinaz é ter pelos. os pelos devem se fazer presentes no corpo do homem, inegociavelmente.
não é obrigatório que tenha barba, a ausência de pelos no rosto deixa em evidência o contorno do queixo e do maxilar, partes extremamente desejáveis . se houver barba, que seja cheia e vistosa, rústica ao olhar, macia ao tocar.
que a pele seja firme, mas sensível ao toque, ao hálito, à saliva, aos dentes. não somente que seja sensível, mas que clame por tais.
é preferível na axila que haja pelos, porém aparados e secos. não que umidade seja sempre um problema. Não é. Transpiração, suor são inevitáveis e por vezes, aprazíveis.
que o nariz seja relevante, nada modesto, pequeno, afilado e arrebitado.
pés e mãos devem ser grandes, quentes e secos. a 37,8 graus centígrados deve ser a temperatura corporal.
que tenha o olhar atento, olhos sentinelas.
ah, que o homem ao caminhar, dê sempre a impressão de que sabe ao certo onde está indo e que o faça quase sempre com urgência. que ele venha, não surja; que ele vá, não parta.
que possua uma capacidade de explicar e nos fazer beber o mel e o fel dos fatos. que saiba bater, com a verdade e com as mãos, quando preciso for.
que ressoe sempre uma voz impossível. um timbre marcante, bonito, um articular quase perfeito. a voz é de extrema importância num homem, não podendo ser fina demais, nem juvenil. que haja qualquer coisa de peculiar, um vestígio de sotaque, um contratempo joaogilbertiano ou um permanente grave matutino...
oh, sobretudo que ele não perca nunca, não importa em que mundo, não importa em que circunstâncias, a sua infinita coragem. ainda que seja a coragem de admitir o medo e o fracasso. coragem de um guerreiro, coragem de um monge.
que o homem cultive sempre o porte e as características de um cavaleiro. a coragem e a honra em sua incalculável imperfeição, constitui a coisa mais bela e mais perfeita de toda criação inumerável.
sobre Receita de Mulher:
o texto acima evidentemente é uma revanche ao texto de Vinícius de Moraes,
Receita de mulher.
o objetivo foi fazer uma provocação ao polêmico texto do poetinha. a ideia foi colocar o homem como um objeto que precisa atender exatamente a certas características, passar por um “selo de qualidade”, podendo ser descartado caso não atinja o padrão de excelência.
não sou contra o texto de Vinícius, posso não concordar com as ideias contidas nele, mas estou bem longe de “cancelá-lo”. apenas aceito como um texto poético, bem escrito, fruto de uma época, sociedade e contexto intelectual do seu autor. todo texto tem sua importância enquanto fonte histórica, e tem muito a oferecer quando bem interrogado e problematizado.
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